sexta-feira, 16 de agosto de 2013

REFLETINDO...



Solidariedade zero - Por Walcyr Carrasco 

Estou na podóloga. Jogamos conversa fora enquanto ela ajeita minhas unhas. Como de praxe, falamos sobre assaltos, tão comuns no dia a dia do paulistano. Recentemente, conta ela, assistiu a um, em frente ao seu salão: três rapazes arrombaram um carro, sem se importar com o alarme, depenaram e fugiram. Fico espantado.
- Você não chamou a polícia?
- Eu não! Tive medo de que eles descobrissem e se vingassem mais tarde.
Observo a rua. Há uma banca de revistas, dois bares e prédios com porteiros devidamente protegidos por grades. Indago:
- Como saberiam, se você está aqui dentro?
- Ah, não sei... Mas o homem da banca disse que eu fiz bem.
(...)
Não me julgo um exemplo. Só tento me colocar no lugar da pessoa. Como me sentiria se me roubassem e todo mundo fingisse não ver? Há maior solidão do que essa? No entanto, abandonar o próximo em uma situação difícil não é uma total falta de compaixão?
Sinto que o cidadão trocou a segurança pela burrice. Durante o papo com a podóloga, questionei:
- E se todo mundo, você, o revisteiro, o pessoal dos bares, os porteiros, chamasse a polícia todas as vezes em que houvesse um assalto?
Ela me olhou admirada. Concluí:
- Em pouco tempo a situação iria se inverter. Os ladrões deixariam de roubar por aqui.
Ela suspirou e terminou de lixar minhas unhas. Prometeu que vai mudar de atitude. Será?
Fui embora com a sensação de que a vida na metrópole será muito melhor quando cada um descobrir que se tornará mais forte ao ajudar o próximo.

Veja São Paulo, 17.06.2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário